7 de dezembro de 2020
Regressando então à senda de ver por ordem os filmes da lista original da AFI que ainda não vi, ganhei coragem e assisti a "The Birth of a Nation" (1915), um filme mudo de 3 horas e 11 minutos de duração. Estive prestes a desistir várias vezes, mas não porque o filme fosse mau. Cinematograficamente falando, o filme é realmente estupendo, um verdadeiro marco na história do cinema, tendo em vista os recursos da época. Até a nível interpretativo dos actores, posso dizer que me surpreendi várias vezes com a qualidade de expressão, a verdade de quem não tem o som para comunicar. É evidente que se vêem muitos acessos de "overacting", típicos do género, mas faz parte e não se pode de facto criticar à luz da escola de interpretação actual. Então o que me deu vontade de parar de ver o filme tantas vezes? A mensagem, que é escabrosa! Salva-se minimamente a primeira hora de filme: o habitual Norte contra Sul da Guerra da Secessão e nada foi muito diferente do que estamos habituados a ver noutros filmes que focam a mesma temática (talvez menos romantizada, um pouco mais crua), incluindo a reconstituição realista de momentos históricos, como o assassinato do presidente Lincoln no Teatro Ford. Mas de resto, posso dizer que este filme compreende duas horas de racismo do mais puro! Sem filtros, sem desvios, sem disfarces! Racismo total e absoluto! Pode-se usar a desculpa do costume, a de ver o documento à luz da época e não da actual? Não pode! Há limites. Desde a utilização de negros exclusivamente como figurantes, o recurso a blackface em actores brancos para interpretar todas as personagens negras e mulatas com um mínimo de acting (porque nem pensar em colocar sangue negro nos "principals"), todas as personagens negras caracterizadas como vilãs, bárbaras, violentas, caricatas, bêbadas, sem modos ou estúpidas e a verdadeira "piéce of resistance"...
... o elogio ao Ku Klux Klan e a caracterização dos seus elementos como verdadeiros heróis salvadores do Sul na reconstrução do pós-guerra e do "Aryan birthright"! Até estou enjoada! Felizmente este documento foi retirado da lista AFI na sua revisão e confesso que nem bem sei como foi considerado sequer na lista original!
Diz-se que foi por causa deste filme que o KKK experienciou o seu ressurgimento em 1915...
Agora vou ter que andar para trás na lista, porque deste não posso dizer que gostei...
Comentários