"The Whale" (2022) de Darren Aronofsky

Acabei de assistir a "The Whale", o filme que granjeou a Brendan Fraser o Óscar de Melhor Actor na interpretação sublime que marcou o seu regresso, após vários anos de afastamento da primeira linha das câmaras. E terminei com a sensação de que se me espetassem uma faca na barriga me doeria menos. Apreciei particularmente o texto, o que não será de estranhar, visto que é uma adaptação da peça teatral homónima de Samuel D. Hunter. As camadas e complexidade de todas as personagens, com todos os seus vícios, pecadilhos e segredos, conferem vários níveis de dor. É como se na realidade todos vivessem escondidos numa chamada de videoconferência com a câmara desligada, como o obeso professor de inglês. Foi ao ponto de a certa altura ter sentido que a obesidade passou para um plano secundário, apesar de aparentemente, tudo girar à volta dela - o sofá onde Charlie se senta está estrategicamente situado no centro de uma sala, à volta do qual tudo vai acontecendo. No entanto, chocou-me um pouco a caracterização de um problema de obesidade mórbida como sendo forçosamente algo que alguém "faz a si próprio", no seguimento de um episódio depressivo ou traumático e os momentos de "binge eating". Talvez haja um fundo de verdade nos críticos que não apreciaram uma certa atmosfera de "fat shaming" na exposição da história. Não achei o filme extraordinário, para além dos elogios que teci acima, mas Fraser, no retrato desesperado do homem que só quer partir sabendo que fez alguma coisa de valor na sua vida, chocou-me às lágrimas e aprovo a sua premiação por isso. 

#agorasoucriticadecinema

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