28 de agosto de 2020
Na 37ª posição da lista original dos melhores filmes americanos da AFI encontrei "The best years of our lives" (1946) de William Wyler, um retrato redentor, mas intenso, de tão fresco, das dificuldades de reinserção dos veteranos da II Guerra Mundial na vida civil. Durante quase 3 horas de filme, assistimos aos dramas de três veteranos com desafios diferentes, mas exemplificativos - a dificuldade de um oficial condecorado em obter um emprego digno, o stress pós-traumático, a frustração de um mutilado de guerra, o alcoolismo, os filhos que não se reconhecem, os casamentos que se têm que reconstruir, os casamentos que não se conseguem reconstruir, a incompreensão da sociedade e, em suma, a desintegração e decadência de quem volta mutilado, principalmente de espírito. Se bem que de forma redentora, este filme faz-nos pensar com eles, sentir com eles, sofrer com eles... A cena do cemitério de aviões, com todo o paralelismo entre os aviões destruídos e claramente "mutilados" com o estado dos veteranos, assim como a subtil crítica a uma sociedade que trata agora "aviões de guerra", que serviram o seu propósito, como sucata - mas... (e aí reside parte do final romantizado) que reutiliza essa sucata para a construção de casas, é simultaneamente bela e angustiante. Algumas notas muito curiosas sobre a produção: O filme começou a ser gravado apenas 7 meses após o final da guerra, o que poderá explicar a sensação de "verdade" que paira sempre no ar - estava tudo demasiado presente e fresco ainda. Harold Russell não era actor profissional e foi escolhido para interpretar o papel de Homer Parrish por ser, de facto, um veterano mutilado de guerra. A Academia decidiu dar-lhe nesse ano um Óscar Honorário por "trazer esperança e coragem aos seus companheiros veteranos" e depois... ele vai e ganha também o Óscar de Melhor Actor Secundário! Portanto, na história dos Óscares, o único "actor" de sempre a ganhar dois Óscares pela mesma personagem... não era actor de todo!
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