"Some like it hot" (1959) de Billy Wilder (AFI 1997 14ª posição)

27 de julho de 2020

Na 14ª posição da lista original da AFI dos 100 melhores filmes americanos de sempre encontramos um filme surpreendente: "Some like it hot", a comédia romântica de enganos de 1959 de Billy Wilder, com Marilyn Monroe, Tony Curtis e Jack Lemmon nos principais papéis. O que faz este filme tão especial? Com humor, um texto magnífico e uma ironia imbatível, este filme é um documento ficcionado sobre factos históricos e algumas questões bem actuais que me deixaram a pensar. A Lei Seca, os negócios fachada que escondiam bares ilegais nas suas traseiras e os esforços que toda a gente fazia para manter o consumo de bebidas alcoolicas, os gangues da Máfia de Chicago e o real Massacre do Dia de São Valentim (que inspirou o do filme), Al Capone (que no filme é ficcionado em Spats Colombo), as dificuldades dos artistas em conseguir trabalho (algo que se mantém até aos dias de hoje!), a constatação da forma abusiva como os homens tratavam as mulheres (isto é, personagens masculinas a referir que este comportamento é insuportável!) e até a sugestão de um casamento entre dois homens!... Se tudo isto não bastasse para fazer de "Some like it hot" um documento de relevância, este ainda funcionou como uma espécie de "último prego no caixão" do Hays Code, o código de conduta moral que censurava a produção cinematográfica nos EUA entre as décadas de 30 e 60, por ter, sem o acordo daquele, utilizado o travestismo e brincado com a ideia da homossexualidade. Tudo isto, num filme a preto-e-branco de 1959, divertidíssimo, que conta com alguns momentos musicais que ficaram para a história na voz da imortal Marylin, como "I wanna be loved by you". Como seria de esperar, este filme lidera outra lista da AFI, a das melhores comédias americanas de todos os tempos e é, all in all, um filme a não perder, muito graças à belíssima interpretação do trio de actores que encabeça o elenco.
"Well, nobody's perfect!"

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