2 de fevereiro de 2021
Como fazer de uma obra-prima da literatura teatral, carregada de conflitos internos, devassidão, agressões físicas e psicológicas, ilusões psicóticas e espirais descendentes na direcção da loucura um filme brilhante, debaixo da caneta azul do Hays Code? Elia Kazan fez. "A Streetcar Named Desire", a partir da peça homónima de Tenessee Williams, foi o filme a que acabei de assistir, sendo que ocupa a 45ª posição da lista original da AFI dos melhores filmes americanos de sempre. Vivian Leigh está incomparável, no que sabe fazer de melhor, que é de "belle sulista", mas Blanche DuBois não é uma "belle" qualquer e certamente não se assemelha a nenhuma Scarlett O'Hara. Leigh soube construir a diferença e retratou a perturbada viagem da personagem numa interpretação que lhe valeu o Óscar. A bem dizer, foi pena que o ainda mal conhecido Marlon Branco não o tenha recebido também (ainda que nomeado!), pois teria sido o primeiro e único filme até à data a conquistar os quatro Óscares nas categorias de Interpretação. Seguramente que a sua interpretação do desprezível Stanley Kowalsky teria sido digna de tal. Mas foi superado por Humphrey Bogart, na sua interpretação em "The African Queen", que considero manifestamente inferior.
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