Eurofestival da Canção 2009

Olha! Já cá estava a faltar o habitual comentário ao Festival da Eurovisão deste ano. Mas não, não o vou fazer, pelo menos não como o tenho feito deste há 2 anos para cá, pois não pude assistir à finalíssima do mesmo, por motivos de trabalho. Gostaria apenas de ressalvar que é notável a pontuação da canção vencedora, a da Noruega, que ultrapassou todos os recordes de pontuação de sempre, mas, tendo tido a oportunidade de a ouvir em diferido no YouTube, realmente não achei que merecesse ter ficado à frente da música da Islândia. Esta era uma música lindíssima, cantada por uma mulher lindíssima, dotada de uma voz lindíssima. Até apetecia partir-lhe uma rótula, ao raio da mulher e mais à perfeição dela! :-)
O meu aplauso para a introdução de um júri na votação da Final deste ano (ao lado do televoto, grrr!), que poderá ser a explicação para a vitória da Noruega e não da Rússia, Ucrânia ou outro país do núcleo duro de leste. Melhor mesmo seria eliminar o televoto de todo, mas isto já é um passo positivo!...

Enfim, como este ano me dediquei a estudar as anteriores edições do Eurofestival e algumas das idiossincrasias e controvérsias que formam este concurso que todos amamos (e odiamos, em simultâneo!), apetece-me listar algumas das situações curiosas e engraçadas (ou não!) que fazem, no fundo, a história do Festival, mas que se traduzem ou são a tradução da história da nossa Europa. Aqui vão elas:

- Eu não fui a única "louca" revoltada que em 2007 tanto gritou contra o método de votação que favorece os países de Leste em relação aos de Oeste (que são os maiores contribuintes financeiros para que este Festival continue a existir). Tem uma certa graça, pensar que a França, Inglaterra, Espanha e Alemanha andam a dar vastas quantias monetárias a um concurso que não têm grande hipótese de voltar a ganhar porque, devido ao televoto, quem ganha o concurso é quem tem mais fronteiras terrestres e mais emigração em países da Europa. E foi graças a essa intensa gritaria dos países de Oeste, evidentemente refutada pelos países de Leste, que até deram honras de capa de jornal a esta controvérsia, a que apelidaram de ridícula, que fez com que a EBU tenha introduzido o júri (ao lado do televoto) na votação deste ano, o que tornou a votação, na minha modesta opinião, seriamente mais justa. Próximo passo: banir o televoto em 2010!!!

- Em 1999 três coisas aconteceram que mudaram dramaticamente a face do Eurofestival: desapareceu a regra de cada país cantar na sua lingua mãe (uma grande pena! A Torre de Babel era 50% do interesse do evento!); os Big-4 - Espanha, França, Inglaterra e Alemanha - sendo os maiores "pagantes" do Festival, passaram a ter sempre presença no mesmo - e mais tarde, até entrada directa para a final (parece-me justo!); desapareceu a orquestra que acompanhava os cantores com música ao vivo (outra grande pena!), passando a ser utilizados playbacks instrumentais. Como disse o Johnny Logan, o Festival da Eurovisão virou karaoke!

- 1998 introduziu o televoto! Ano do demónio! Coincidiu curiosamente com o ano em que a Itália deixou de participar no Festival! Espertos!...

- Em 1996 a Noruega colocou políticos dos vários países participantes a desejar boa sorte aos seus artistas. O António Guterres lá esteve a cumprir com o seu papel e bem, por sinal, porque a Lúcia Moniz ficou em 6º lugar, a melhor qualificação de sempre de Portugal. Mas quem de facto estava em dia de desejar sorte em força era o irlandês...

- A Irlanda ganhou o Eurofestival em 3 anos seguidos: 1992, 1993 e 1994. Em 1995 anunciou que não organizaria o Eurofestival no ano seguinte caso ganhasse, por motivos financeiros, o que até gerou uma onda de controvérsia na Irlanda, tendo algumas vozes mencionado que a RTÉ teria deliberadamente escolhido uma canção fraca neste ano para não ter qualquer hipótese de vencer. E não venceu de facto, pois a belíssima canção (de 24 palavras apenas) da Noruega, Nocturne, convenceu. Mas não se livraram de organizar outra vez o Festival em 1997! Bem feita para eles! :-)

- Em 1994 o cantor da Polónia, Edyta Górniak, portou-se mal, causando uma escandaleira, pois cantou a sua canção em inglês no ensaio geral, com os júris a ver. Houve alguma refilice, mas a Polónia não foi desqualificada e acabou por ficar em 2º lugar!

- A edição de 1991 foi uma das mais controversas em termos da forma como correu de toda a história do Eurofestival. Os apresentadores Gigliola Cinquetti e Toto Cotugno, com as suas dificuldades com a lingua inglesa, fizeram a apresentação praticamente só em italiano (que não é uma das linguas oficiais da EBU) e baralharam o sistema de voto variadissimas vezes - há que referir que este era o mesmo de há 16 anos!!

- A situação política da Europa dominou a edição de 1990. As letras de muitas das canções apresentadas celebravam o furacão de democratização que tinha engolido a Europa Central e de Leste apenas alguns meses antes, focando especialmente o momento iconográfico da queda do Muro de Berlin, em Novembro de 1989. A canção italiana, a vencedora, foi uma evocação arrebatadora da União Europeia, em antecipação à finalização do mercado único europeu, que viria a ocorrer em 1992. Na edição deste ano garantiu-se que o recorde de Sandra Kim, que ganhou o Eurofestival com apenas 13 anos de idade em 1986, nunca seria quebrado, com a introdução da idade mínima de partipação de 16 anos.

- A Suiça, que ficou em segundo em 1986, tentou que desqualificassem a pobre da Sandra Kim, por só ter 13 aninhos. Não conseguiram nada, invejosos!...

- Em 1980 Marrocos entrou no Eurofestival e nunca mais voltou a aparecer. Assustaram-se? Não devem ter gostado de ficar em penúltimo. Já Portugal ficou em 7º, a nossa segunda melhor qualificação de sempre - grande José Cid!

- Em 1979 Israel ganhou o Eurofestival pela segunda vez consecutiva e recusou-se, por falta de dinheiro, a organizar o evento no ano seguinte. Se não tinham guita, para que levaram neste ano uma das mais memoráveis e iconográficas canções da história da Eurovisão da Canção (Hallelujah)? Estavam mesmo a pedi-las!...

- Em 1978 Israel ganhou o Eurofestival pela primeira vez, o que causou alguma celeuma em alguns países do Norte de África e Médio Oriente que estavam a transmitir o programa. Quando se tornou evidente que Israel iria ser o vencedor deste ano, a maior parte das emissoras árabes terminaram a sua transmissão, tendo inclusivé a Bélgica, que terminou em segundo, sido anunciada como vencedora do evento pela televisão da Jordânia.

- Em 1977 a regra da linguagem foi reintroduzida, após ter sido retirada quatro anos antes. Só veio a durar mais 22 anos, é pena!...

- Em 1975 a nossa "Madrugada" foi uma celebração aberta da Revolução dos Cravos! Consta que Duarte Mendes teve que ser dissuadido de utilizar o uniforme do exército português e a sua arma no palco!... Neste ano a Grécia boicotou o Eurofestival, em protesto contra a invasão turca do Chipre em 1974.

- Em 1974, como não poderia deixar de ser, a nossa "E Depois do Adeus" foi referida como a única entrada na Eurovisão que efectivamente deu início (literalmente) a uma revolução!... Quanto à Itália, esta viu-se impedida de emitir o festival neste ano, pois a sua própria canção, de titulo "Si", foi considerada tendenciosa pelos censores, sendo que no espaço de alguns meses teria lugar um referendo sobre o divórcio naquele país.

- E em 1973 a letra elíptica de "Tourada" deu a cobertura necessária à nossa música, que era um evidente ataque à ditadura decadente que ainda se vivia em Portugal.

- Em 1970 Portugal encontrou-se entre os cinco países que boicotaram o Eurofestival devido à estrutura de votos que criara 4 vencedores no ano precedente. Devido a esses mesmos 4 vencedores, foi necessário tirar à sorte para se saber quem organizaria o Eurofestival neste ano. A sorte recaiu sobre a Holanda. Por causa da curta duração que o evento teria devido aos boicotes, a Holanda teve que "encher chouriços", criando uma sequência inicial e apresentando cada país com um "postal". Este formato mantém-se até aos nossos dias. Ele há males...

- Em 1969, conforme já mencionei houve um empate a quatro no primeiro lugar: França, Inglaterra, Holanda e Espanha. Isto causou um problema no que toca às medalhas, pois não havia que chegasse para tanta gente!... :-)

- Em 1964 Portugal participou pela primeira vez no Eurofestival e fê-lo tristemente, tornando-se o primeiro país a ter 0 pontos na sua estreia (Puxa! Que belo arranque! E se tivessemos feito o mesmo que Marrocos?). Após a apresentação da canção da Suiça, um homem irrompeu no evento com um cartaz onde se podia ler "Boicotem Franco e Salazar!" Não sei quem foi esse homem, nem que de nacionalidade era ou se ainda é vivo, mas um grande Bem Haja para ele, onde quer que esteja!...

Enfim, resta-nos esperar por 2010 e ver que surpresas nos reserva o Festival. Espero sinceramente que a EBU mude o sistema de voto e que convença com isso a Itália, o Mónaco e a Áustria a regressar ao concurso. Mas para bem da credibilidade deste evento, onde tanta história foi escrita, as coisas não podem continuar como nos últimos anos. De maneira alguma...

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