Eurofestival da Canção 2008

Ontem foi a final do famigerado Eurofestival deste ano, sendo que mais uma vez o sistema de televoto dos espectadores tornou totalmente evidente as politiquices que estão por detrás da eleição dos vencedores e a força dos países do bloco de leste. Pois senão veja-se o que acontece todos os anos, independentemente de as músicas serem boas ou más (afinal de contas, a qualidade das canções parece ser o que menos interessa neste concurso):

- Portugal deu outra vez 12 pontos à Ucrânia (ei-los nos andaimes outra vez! - vide o meu artigo sobre a edição do Eurofestival de 2007).
- Portugal deu 10 pontos à vizinha Espanha, pela música mais ridícula que nos últimos anos me foi dado a conhecer - e que apenas desculpo aos nossos irmãos, porque a interpretei como um gozo aberto e descarado aos vícios que dominam este concurso actualmente. A Espanha deu-nos os já habituais 8 pontos a nós.
- Os países que pululam com os nossos emigrantes deram boas pontuações a Portugal, mas não tão boas como poderiam ser, uma vez que também já os dominam os fortíssimos lobbys de emigrantes de leste.
- A Bielorrússia dá pontos à Rússia, à Letónia... A Rússia dá pontos à Bielorrússia, à Letónia... A Letónia dá pontos à Rússia, à Bielorrússia...
- Os países da antiga Jugoslávia dão pontos uns aos outros (matam-se durante todo o ano, mas nesta noite até parece que se gramam!).

A televisão austríaca ORF, ao anunciar a sua decisão de não atender à competição este ano, afirmou: "We've already seen in 2007 that it's not the quality of the song, but the country of origin that determines the decision. As long as the Song Contest is a political parade ground and not an international entertainment programme, ORF has no desire to send more talent out of Austria to a competition where they have no chances." Acho que bem fez a Itália, que não põe lá as vozes desde 1997! RTP, põe os olhos nestes exemplos...

Tudo isto (e outras coisas) contribuiram para a finalíssima menos entusiamante a que alguma vez assisti (apenas na questão da votação, porque em termos de espectáculo esteve muito bom). Sim, porque se no ano passado ganhou uma música Sérvia que me arrepiou sobremaneira, este ano o Top 3 foi dominado por canções que praticamente me passaram despercebidas. Não digo que a canção da Rússia fosse feia, mas helas! ouvi muitas outras que me atraíram muito mais.

Decidi que este ano só falaria das músicas que me fizessem sentir algo forte, quer positivo, quer negativo. E fiel a esta decisão me vou manter. Assim sendo, não falarei da música vencedora (Rússia), nem da que ficou em 3º lugar (Grécia). Lamento, mas é assim mesmo, foram-me indiferentes, perante um desfile de qualidade (e des-qualidade) que na minha opinião, vale muito mais a pena abordar.

Assim sendo, vou começar pelas más notícias, as prestações que me deixaram mal impressionada. Para começo de conversa, devo dizer com franqueza que não percebo o que faz com que o Reino Unido, a Alemanha, a França e a Espanha tenham mais direitos que os outros e tenham passagem directa à final. A Sérvia compreende-se, por ser o país anfitrião, mas os outros parece que é para que tenham o direito de apresentar más canções a serem mal cantadas. Não foi o caso de todos os quatro, mas foi definitivamente o caso da França (credo!), da Espanha (que porcaria foi aquela, queridos hermanos? Só se compreende que tenha sido para o gozo total!) e da Alemanha (uma girls band desafinada para uma música feia). Só me satisfaz que tenham ficado todos atrás de Portugal! Continuando o rosário, minha querida Isabel Angelino, chamar "uma mistura de Celine Dion e Lara Fabian" à criatura que gritava durante a canção da Polónia é ofender essas duas grandes senhoras da música! Mesmo! A música da Bósnia Herzegovina até nem era péssima, só achei que a interpretação foi mesmo muito... enfim... fora. Quanto à música da Letónia, que não era feia e visualmente estava bem conseguida, parece-me que já a ouvi em qualquer lado. O mesmo poderei dizer da canção da Suécia: um pelágio do pop sueco, cantado por uma mocinha (já vencedora do festival) a quem maquilharam de tal forma que parecia um cadáver. Também auditivamente reconhecível, para além de ser uma canção totalmente básica, foi a apresentada pela Dinamarca. Deste rol, só a da Bósnia ficou à nossa frente (o que enfim, não constituí vergonha nenhuma!). Mas a canção da Ucrânia, meus senhores, ficou em 2º lugar! Se a senhora era bonita? Com certeza que sim, mas a interpretação e a canção não me convenceram de todo. E que eu saiba, isto ainda não é a eleição da Miss Europa. Mas parece que sim, às vezes...
Chega de dizer mal! Vamos ao comentário positivo; Eu tenho uma tendência para me atrair por canções que são ou muito melodiosas, muito bonitas ou que trazem algo de positivamente novo e/ou diferente. Aconteceu um pouco de tudo isto este ano: a canção do Reino Unido tinha groove e foi muito bem interpretada. Ficou muito mal classificada, mas devo concordar, porque de facto houve muitas outras que me agradaram mais. Assim sendo, o meu voto preferencial foi para a Croácia, com o seu tango estilo Gotam Project, muitíssimo bem interpretado e uma música fabulosa. Adorei! O meu segundo voto foi para a Finlândia, que voltaram a apostar numa banda de Hard Rock, mas desta vez não convenceram a Europa. Convenceram-me a mim. Depois temos a Islândia, que trouxe uma música ao estilo dance music que, na minha opinião, era boa e tinha power. Os rockeiros da Turquia trouxeram uma canção tipo rock gótico que me agradou bastante. A Europa também gostou, já que ficaram em 7º lugar. A canção da Geórgia tinha muita força. Era um grito pela paz, que este mundo tanto precisa. A canção do Azerbaijão (estreante nestas lides do festival), deixou-me de boca aberta. Dois cantores (um ligeiro e um contra-tenor) de vozes absolutamente soberbas! Uma estreia que os levou a um fantástico 8º lugar. A canção da Albânia era bonita e foi muito bem cantada. A Sérvia voltou a apostar na sonoridade que lhes deu a vitória no ano passado, uma mistura de misticismo com toadas étnicas. O resultado foi uma belíssima canção que ficou em 6º lugar.

Quanto a Portugal, que poderei dizer? Que a nossa Senhora do Mar é uma canção de arrepiar? Sem dúvida. Que a interpretação da Vânia e seus companheiros foi de ir às lágrimas? Seguramente. Que a imagem estava muitíssimo bem conseguida e impressionante? Pois claro. Tudo isto já sabemos. Não ganhámos, é verdade. Também é verdade que só temos um vizinho, logo estamos muito aquém no jogo dos compadrios. Mas sabendo tudo isto, é mesmo assim impressionante que tenhamos outras importantes vitórias a assinalar:

- Desde 2004 que não íamos à final e fomos este ano, tendo sido apurados em 2º lugar na nossa semi-final, com 120 pontos!
- Não ficámos no Top 10, mas ficámos em 13º lugar em 25 países (43 votantes).
- A nossa canção foi eleita vencedora pelos jornalistas presentes no evento.

E perante isto tudo, ainda acham que vale a pena andarmos a desperdiçar o talento dos nossos artistas e a desrespeitar a memória de tantos talentos que fizeram a história deste Festival, num concurso viciado, onde, com esta história do televoto, o que menos vai interessar será sempre se as canções têm ou não qualidade, mas sim, a quantidade de fronteiras terrestres que um país tem? Ou então, porque não assumir uma postura de boicote aberto (tipo o que a Espanha e a Irlanda fizeram) e mandar para lá um duo de palhaços cantores escultores de balões, com contorcionistas e/ou cuspidores de fogo? A Rússia levou um patinador e funcionou! Meus amigos, o espectáculo é bonito e o conceito interessante, mas longe vai o dia em que o Eurofestival tinha um imenso valor e notória presença nas vidas dos europeus. As politiquices estragaram a ideia por detrás do festival e o desinteresse dos países que algum dia conheceram outra realidade é evidente. Talvez seja uma boa altura para saltar fora também...

Ah! Esqueçamos a música, e venha de lá o futebol... :-)

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