"Barbeiro de Sevilha" (TIL) no Teatro Armando Cortez

E eis que, em duas semanas, assisti a dois espectáculos sobre barbeiros que, de tão diferentes entre si, poderiam ser comparáveis a ir ver o "The Ring" e o "Wizard of Oz" ao cinema num mesmo dia. Quem me conheça sabe o quanto odeio os "mega-espectáculos" que se fazem para crianças hoje em dia, que apenas servem para subtrair abastadas quantias de dinheiro dos bolsos dos pobres pais, porque nem os putos ligam nenhuma aquelas Noddyzadas, Rucalhadas ou Bobalhices. Este "Barbeiro de Sevilha" do Teatro Infantil de Lisboa, levado à cena no Teatro Armando Cortez, é o género de espectáculo onde gosto de levar a minha filha. Têm preocupação com a qualidade e com a criação de um espectáculo consistente e que ensine algo, divertindo. E é claro, amigos no elenco!... Pena é que o público, na sua grande maioria, crianças de escolas, esteja mais preocupado com gritar uns com os outros ou fazer comentários que os fazem parecer engraçadinhos aos olhos dos colegas. Mas enfim, são os ossos do ofício e já todos tivemos aquela idade!...
Sobre o espectáculo e tendo em vista que para crianças se trata, francamente, é mesmo aquilo: numa linguagem simples, bastante colorido, musical, divertido e jovial. Sendo como foi, baseado numa ópera de Rossini, penso que ajudará inclusivé crianças de determinadas faixas etárias (não a minha Inês, ainda, pois pouco liga a isso!) a terem um primeiro contacto com a música clássica e a ópera de uma forma lúdica, que (talvez) lhes dará vontade de conhecer a obra original. Pelo menos, falando por mim e remetendo-me ao "Brincando aos Clássicos" da saudosa Ana Faria, foi uma primeira introdução a uma existência para sempre agrilhoada à música. Abençoada seja!...
Os figurinos de Rafaela Mapril e a cenografia de Kim Cachopo, não sendo tremendamente simples, estavam extremamente apelativos. A encenação de Fernando Gomes estava perfeitamente brilhante. Excelente adaptação e direcção musical de Filipe Carvalheiro, assim como o apoio coreográfico de Paula Sabino e o desenho de luz de Paulo Sabino.
Já em relação ao elenco, devo fazer alguns reparos, porque se é um musical que se pretende fazer, penso que deveria haver um pouquinho mais de rigor na selecção dos cantores, principalmente para os papéis principais. Parecendo mais uma vez estar a puxar a brasa à minha sardinha, mas não podendo evitá-lo, uma vez que eram as únicas vozes que conheço fora das portas daquele teatro, os únicos cantores que ali encontrei foram a Célia Maria (Berta), o Paulo Carrilho (Conde Almaviva - e que esteve muitíssimo bem, aliás!) e o Pessoa Júnior (Narrador e Polícia - e que está sempre bem!). Todos os outros eram actores a cantar. Nada tenho contra actores a cantar, muito pelo contrário, inclusivé o trabalho de actor esteve irrepreensível. Não se pode é chamar musical à peça... Talvez "teatro musicado" seja mais correcto. Mas se calhar foi essa a intenção logo desde o início. Não me podem é depois pedir que goste de ouvir cantar numa peça uma pessoa que não sabe cantar ou que não tem voz. Enfim!
Uma nota especial para a Adriana Pereira no papel da criada Carmen, que Rossini não criou, mas que esteve muito engraçada. O tá-tá do Paulo Neto Don Basílio também me divertiu bastante.

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