Heidi e Marco – os grandes culpados

Ontem fui dar um passeio com a minha filha no jardim antes de jantar e entrámos numa papelaria onde, invariavelmente, ela me pediu que lhe comprasse coisas. Essas coisas foram: o primeiro fascículo dos DVD’s da Heidi e do Marco (o que eu achei interessante, tendo em vista que achava que as crianças da idade dela não ligavam à estética dos desenhos animados do “meu” tempo!) e, claro, o fascículo com o DVD nº 17 daquele chato do Noddy. Mas o Noddy, enfim, não vou gastar duas frases a falar nele. Já a Heidi e o Marco merecem a minha mais profunda reflexão.
Chegámos a casa e ela quis logo ver esses dois primeiros episódios dessas personagens de culto da minha infância. O que vi chocou-me sobremaneira, dando-me vontade de queimar o DVD de imediato. À Heidi, confesso, não prestei muita atenção, mas vi o episódio do Marco na íntegra. Eu já sabia que eram séries a puxar para o sentimento, mas não tinha consciência (ou lembrança) do que aquilo efectivamente era. O que eu vi foi algo que nunca nenhum pedopsiquiatra que se preze aprovaria em séries actuais. Vi todo um episódio, a incluir a famigerada cena da despedida da mamã que parte para a Argentina, de fazer chorar as pedras da calçada, já para não falar na bofetada que a pobre criança leva do irmão mais velho por dizer que se disponibiliza para ir trabalhar para que a mãe não se veja obrigada a partir. E como ainda por cima, eu até sei que esta novela nipoitaliana termina com o pobre Marco, depois de ter procurado a mãe durante sei lá quantos episódios, a encontrá-la no seu leito de morte… Como diria o Ricardo Araújo Pereira: “Mas o que é isto???” O que é isto, realmente? Mas estava tudo tudo doido nos anos 80, ou quê? Como é que os nossos paizinhos nos deixaram assistir a isto? Como é que em tão poucos anos (25 anos não são muitos anos!!) os conceitos do que traumatiza uma criança mudaram assim tanto? Eu costumava dizer na brincadeira que séries como a Heidi, o Marco e aquela deslavada da Candy, Candy é que eram as grandes culpadas de nós sermos uma geração movida a Xanax e a Prosac, mas agora não brinco mais. Elas são efectiva e indiscutivelmente, as grandes culpadas!
Meus amigos, já não sei o que diga! Mas de certeza que, quando olhar para a televisão e vir uma Floribela a falar com árvores ou uns bonecos esquisitos que ninguém percebe o que realmente são a fazer torneios de luta com armas que não existem, não será “No meu tempo é que se faziam séries a sério!” Porque falar com árvores até as crianças sabem que é fantasia. Coisas como a separação forçada, o choro convulsivo e a morte de um ente querido não são. E as crianças têm direito a fantasiar. Para serem agredidas com a realidade, têm todo o tempo do mundo quando forem adultos…

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