Maestros de plateia

Nos tempos que correm é muito comum ouvir falar em treinadores de bancada. É evidente, só se fala em futebol! Se não é o Mundial, é a Liga; se não é a Liga, é o Europeu; se não é o Europeu, é a Taça; se não é Taça, é o jogo a feijões que alinha o Joanne com o 1º de Maio. Mas em todos os confrontos futebolísticos é constante a figura do treinador de bancada, não invulgarmente em número superior a 1… milhão! É aquela figura que lança pérolas do género “Mas porque é que ele não põe o Nuno Gomes a jogar?” ou “Se fosse eu, punha dois avançados e tirava um defesa!” ou ainda “Mas porque é que ele ainda não tirou aquele gajo? Não está a jogar um c*$$%&&&!” E é precisamente aqui que reside a disparidade entre as duas classes sobre os quais se debruça este artigo: os treinadores de bancada e os maestros de plateia. São essencialmente a mesma coisa: ambos exortam acaloradamente sobre matérias que julgam abranger, mas que, na sua essência, desconhecem em absoluto. Mas maestro de plateia que se preze não usa obscenidades nas suas dissertações. Já os treinadores de bancada, nem o seriam na verdadeira acepção da palavra sem aquela boa dose de verborreia capaz de fazer enrubescer os mais prevenidos. Mas nenhum deles parece perceber que se alcançassem realmente alguma coisa do assunto que tantas vezes impingem aos incautos, seriam eles que estariam ali, à frente, a receber os aplausos do público e, em alguns dos casos, os vencimentos milionários. Mas não são, e ainda bem.
Este artigo não pretende debruçar-se em demasia sobre essa criatura verdadeiramente fascinante do treinador de bancada. Abrangerá sim, esse outro indivíduo tantas vezes injustamente esquecido, o maestro de plateia, esse pseudo-intelectualóide que enche as nossas (e as dos outros) casas de espectáculos e tece as mais cativantes opiniões sobre as peças, as interpretações, o ritmo, a harmonia… Basicamente nada escapa ao olho clínico desse projecto de crítico de artes. E não é pouco comum encontrá-los no intervalo a comentar a primeira parte com expressões como: “melodias amarelas” ou “os primeiros compassos pareceram-me um pouco pragmáticos, mas os seguintes adquiriram energia harmónica!” ou ainda “O soprano está em grande forma, não te parece? Uma voz maviosa, doce, cheia de spinto!” Deuses! Mas esta gente terá alguma noção do que está a dizer? Ou falam só por falar? E os interlocutores abanam a cabeça e afirmam a pés juntos de que aquele ser é que percebe de música! Mas o mais grave não é quando maestros de plateia trocam palavras com leigos ou com outros maestros de plateia. Grave mesmo é quando estas doutas entidades se precipitam para os bastidores como se não houvesse amanhã, para interpelar cantores, maestro, instrumentistas, encenador e até maquinistas! “Bravo, bravo, que magnífica performance, que brilho, que fulgor! Gostei em particular daquela parte em Lá sostenido Maior!”
Crescem sentimentos pouco católicos dentro de uma pessoa nestes momentos. O que me vale é não ser uma pessoa muito religiosa!...

Comentários

BlueTraveler disse…
Correr para os bastidores como se não ouvesse amanhã, para comentar a performance dos músicos, cantores e etc???

Porra que falta de gosto, se ainda fosse para apalpar os músicos e cantores e etc, pelo menos para apalpar e roubar beijinhos aos mais bonitos ainda vá que não vá... Agora para falar??? Realmente só podem crescer sentimentos não muito católicos
Mainevent disse…
Mas será possível que o meu amigo não seja capaz de um comentário de nível elevado, conforme é requisito, tendo em vista o altíssimo nível de artigos publicados neste blog??? Ham??? :-)