"A Canção de Lisboa" no Teatro Politeama

Há coisa de uma ou duas semanas atrás fui ver "A Canção de Lisboa" ao Teatro Politeama, musical de Filipe La Féria baseado no filme homónimo de 1933, com as interpretações notáveis e saudosas de Vasco Santana e Beatriz Costa. Trata-se de um espectáculo musical com uma envergadura cénica notável, já a tentar bater-se em terrenos, senão iguais, pelo menos semelhantes, com os musicais estrangeiros. No entanto, e aí reside o pormenor que assola, na minha opinião, estas produções: o espectáculo é demasiado revisteiro para meu gosto. Verdade seja dita que o argumento e a temática também se prestam a isso: o fado, a boémia lisboeta dos anos 30, as festas de Stº António, enfim, tudo leva a que seja fácil perceber porque é que se põem os actores/cantores a puxar pelas palminhas do público ou a gritar histericamente. Não tive oportunidade de ver os outros musicais do srº La Féria, nomeadamente os estrangeiros (como o “My Fair Lady”, na tradução “Minha Linda Senhora”), mas estou segura que a revista, esse marco da nossa cultura teatral, esteve ausente na quase totalidade, por não ser minimamente adequada. Já em relação ao sapateado americano, realmente não percebi a ideia. Há limites, não é necessário esgotar numa única produção todas as ideias que se têm só porque se tiveram. É como aqueles cantores que em todas as músicas que cantam exploram todo o espectro vocal que possuem. E depois, parecem todas iguais, essas músicas…
Aceite que estava assim este pormenor, posso dizer que até gostei do espectáculo. Bem encenado, bem interpretado, bem dançado, a inclusão de cenas de outros filmes, usando a frase “Isso é de outro filme!”, qual leit motif, até me fez sorrir. Enfim, aquele texto bem conhecido (ou não tivesse visto o filme pelo menos umas 20 vezes!) todo ele me deu vontade de sorrir. Gostei de ouvir as novas músicas e as antigas, misturadas como se sempre assim tivesse sido. Uma nota de particular apreço para o espelho que desce ao fundo do palco quando o Vasco Leitão supostamente está a dar um concerto em 1933 no Teatro Politeama e aquilo que se vê não é mais do que o público ele próprio e a projecção do cantor, como se todo o teatro se tivesse totalmente invertido.
Quanto à internacionalização do espectáculo, não pude deixar de reparar que nas legendas simultâneas o que aparece não é a tradução do que se diz, mas pequenos resumos da acção desse momento. Parece-me interessante, mas insuficiente. No entanto, compreendo que seja quase impossível traduzir determinadas piadas e pequenas malícias que são tão absolutamente nossas…
Por tudo isto, e se esquecer mais uma vez que não gosto de revista, vale a pena ver este espectáculo. Quanto mais não seja para ver o nosso fado elevado à categoria de atracção mundial… E venha daí a “Música no Coração”!

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