O Conservatório – que futuro se avizinha?

Jurei a mim mesma, na altura em que resolvi criar este blog, que não falaria sobre política! No entanto penso que o assunto em epígrafe não se tratará única e exclusivamente de um assunto político, mas de uma consciência sócio-cultural que os governantes deste país parecem ter totalmente extraviado. Já para não falar das condições em que divaga o bom-senso governativo...
Tomei conhecimento há dias (e atenção, pois vendo pelo preço que comprei, embora acredite que a melhor forma de fazer com que o povo aceite uma decisão polémica é transformá-la previamente em boato, para que depois a palavra nas ruas seja “Mas isso já se sabia há muito!”) que o Ministério da Educação pensa em vender o edifício do Conservatório Nacional de Lisboa para efeitos de construção de um hotel. Na minha curta existência como membro activo de uma comunidade artística que ainda admitia uma tímida refulgência ao fundo do túnel para a cultura neste país, tenho assistido de posição privilegiada ao constante esmigalhar da mesma em função de razões financeiras e/ou futebolísticas (que vai dar essencialmente ao mesmo!). A notícia provocou em mim tal comoção que temo exalar demasiada austeridade na minha exortação ao mencionar tal episódio. Tentarei manter a calma…
O Conservatório Nacional é uma instituição que remonta a 1835, instalado no antigo Convento dos Caetanos deste 1837. O edifício, desocupado com a extinção das Ordens Religiosas em 1820, foi reedificado no século XVIII. Todo este percurso de cronologia invertida apenas para atingir este ponto: o edifício do Conservatório Nacional foi construído em 1653. E agora, querem remodelá-lo para conter suites com casa de banho e salas de conferências! Lamento, mas isto é-me ofensivo, como penso que o seja a todos os nomes do presente e do passado que viram as suas vidas transfiguradas e engrandecidas pela sua passagem por aquele local. É uma ideia, no mínimo, criminosa, pois não só se trata de um atentado aberto e escabroso contra um edifício com inúmeros séculos de vivências, cujas reentrâncias sussurram histórias de monumentalidade que aqueles senhores nunca poderão ambicionar compreender, mas é principalmente um assumido desacato pela memória daqueles que compõem a nossa história cultural, presente e passada: João Domingos Bomtempo, Almeida Garrett, Luis Augusto Palmeirim, Eduardo Schwalbach, Júlio Dantas, Vianna da Motta, Francisco Xavier Migone, Francisco Baía, Augusto Machado, Luís de Freitas Branco, Augusto Machado, Ivo Cruz e Constância Capdeville, para apenas mencionar alguns dos que já não se podem defender desta infame injúria. Cabe-nos a nós, os que ainda se podem animar contra esta investida condenável e blasfema, erguer bem alto o grito de alerta, para fazer valer as vozes já silenciadas dos artistas consagrados do passado. Isto pode parecer discurso subversivo. Se calhar, até é. Mas não consigo ficar inerte a assistir a mais esta brutal aniquilação dos valores em que acredito. A sucessão de histórias demonstrativas do total desrespeito de quem nos governa pelos nossos valores culturais, que definem afinal a nossa identidade como povo português, choca-me sobremaneira.
Admito que gosto de futebol. As manifestações de apreço pela nossa selecção, neste momento em que o Mundial de Futebol se aproxima, arrebatam as emoções. Mas não nos podemos esquecer da máquina financeira que está por detrás desta modalidade. Ao aferirmos o dinheiro que é dispendido diariamente para que o Mundo observe, embasbacado, 22 homens a correr atrás de uma bola, em sacrifício, inclusive, de outras modalidades desportivas, obliteradas pelo peso da “prova rainha”, mais chocante se torna o que planeia agora fazer às artes. Acredito que os adeptos de um clube de futebol se uniriam inequivocamente para se rebelar contra a demolição do seu estádio (se isso não significasse a construção de um ainda maior!). Portanto, invoco todos os músicos, actores, poetas, escritores, compositores, maestros, encenadores, escultores, pintores, cantores, bailarinos, melómanos, amantes da cultura em geral, para se unirem em revolta contra este “boato” político. Que não se torne uma irremediável certeza, por favor…

Comentários

BlueTraveler disse…
Carissíma...

Nem te estou a reconhecer nestas tuas palavras!
Um discurso desses?!? Mais pareces uma activista do partido Comunista do que... Tu!

Então tu estas a querer unir esses tais de "artistas" para que se salve um pedaço de história Portuguesa???

Tu estas bem???

Desde quando é que ao Português interessa a sua história? Só mesmo quando há outros valores mais elevados!

Não se está a conseguir transformar o fado em património nacional? O fado? Uma canção tipicamente de Lisboa e arredores?
Não estão também a querer fazer o mesmo com as touradas e outros eventos a volta dessa "arte cultural"?

Então, nessas coisas os artistas ligados a isso conseguiram unir-se!!!

Agora unirem-se à volta de edifícios de pedra??? Nem pensar!!!

Olha para a feira popular??? Tens lá ido? Sabes onde é? Olha.. eu nunca fui e acho que nunca irei!

E o Parque Mayer/casino?? No casino pelo menos já posso ir colocar uma moedita para jogar, até posso ouvir concertos de música...
E o parque??? Será que na altura eu ouvi mal e eles terão dito "Parque de estacionamento pago"?

Onde é que aqui estavam os "artistas unidos" (publicidade à parte)!

Onde é que estava essa classe poetica e sonhadora? Pessoas que até queriam, mais que tudo, elevar a sua alma?

Onde estão os Almada Negreiros? Os Eças? Os... sei lá quem?

Vamos mas é marcar uma choiriçada ou caracolada (Até ai vem o tempo dela)! Desde que haja cerveja e música eu alinho!
NoHope disse…
Isso é um boato malicioso só para agitar as massas comunas. Bem, e para que essas massas comunas se identifiquem. Mas esse boato é, quase de certeza, falso. E se o não for, também já se esperava. Essa noticia até já está escrita em Blogs na Internet (é neste blog mas a afirmação permanece verdadeira). Esses comunas vieram barafustar porque o progresso os amedronta. Os hoteis trazem o progresso. A música clássica faz dormir.
E o comuna que falou antes se não for gay pelo menos é maricas. Quando é que um homem que é homem sabe quem foi o Eça ou o Almada Negreiros? Ainda se fosse o Scolari...
Ah! E o fado é uma praga que é de Lisboa, Porto, Coimbra e arredores (Coimbra é na Beira Litoral, a caminho de Viseu).
Eu acho que não só deviamos vender o conservatório como deviamos punir quem insista em ser maricas ou músico ou os dois. E queimar os livros porque a cultura só serve para o povinho pensar e depois de pensarem ficam tristes com o país que temos.
Vá-se o conservatório mas que fique o futebol e as novelas e as missas e os padres em todas as televisões.