"O Bosque Encantado" no Auditório Carlos Paredes

No sábado passado levei a minha filha Inês a ver “O Bosque Encantado”, peça baseada no “Sonho de uma noite de Verão” de Shakespeare, levada à cena no Auditório Carlos Paredes pelo Grupo de Teatro Os Papa-Léguas. No elenco, dois amigos: Pessoa Júnior e Cristina Basílio, o que por si só já seria motivo suficiente para comparecer à peça infantil; no entanto, quem interessava deliciar naquela tarde era a Inês e as dezenas incontáveis de crianças na plateia. E aí, penso ter encontrado alguns pontos passíveis de melhoria, de parte a parte, é necessário dizer: a peça pareceu-me demasiado extensa e talvez um pouco complexa demais para a faixa etária que visava. Foi matemático, ao dobrar a meia hora deu-se início à agitação na sala. Eu sei que é difícil manter uma criança quieta quando ela assim não quer ser mantida. Mas aquele “entra e sai” da sala, por uma porta virada para o palco cuja luz incomoda os actores, já para não falar daquelas luzes horripilantes que emanavam de um brinquedo qualquer do NoddyTM e que os paizinhos não impediam as suas crianças de usar durante a récita, foi realmente um pouco demais. Os pais conscientes e atentos à educação dos seus filhos ensinam-lhes como se comportarem em casa, na rua, em locais públicos e na casa de outras pessoas. Conhecem bem as regras e impõem o seu cumprimento. Mas então porque é que permitem um comportamento perfeitamente irracional num local que também detém algumas regras de etiqueta, afinal, como é o teatro? Desconhecem que luzes e agitação na plateia desconcentram os actores e podem pôr em risco a sua performance, comprometendo o espectáculo? Porque é que não ensinam aos filhos como se devem comportar no teatro, com a mesma facilidade com que lhes ensinam a dizer “por favor” e “obrigado”?
Mas agora, o espectáculo: seis actores assumiram magistralmente a panóplia de personagens da peça shakesperiana, com mudanças complicadas de fatos e manobras engenhosas por parte da encenação (parabéns, Mário Jorge!). Uma nota particular de apreciação para o desempenho fora de série dos meus queridos amigos Pessoa Júnior (Oberon, entre outros) e Cristina Basílio (Robin e Hérmia, entre outros) e de Pedro Cardoso (Lisandro, Nicolau Novelo, entre outros). O Oberon do Júnior esteve majestoso e cheio de força. A Cristina conseguiu uma dualidade perfeita entre um Robin saltitão e uma Hérmia apaixonada e sedutora. O Nicolau Novelo do Pedro esteve soberbo e quase morri de rir no momento em que ele contracena com Margarida Borges (Titânia), num tango tremendamente cómico. Quanto a aspectos técnicos, a cenografia do Mário Jorge convenceu-me em pleno, assim como os figurinos da Marije.
Em suma, gostei imenso desta produção da saga de Shakespeare, que me proporcionou e à minha filha uma tarde de sábado muitíssimo agradável.

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