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E foi então este musical ocasional, este pilar da cultural musical ocidental, que me deu a conhecer este grupo. Sam Mendes, o aclamado realizador de “American Beauty” e anterior encenador de musicais de palco no West End e na Broadway, afirmou que Cabaret é realmente sobre o mistério central do século XX – como Hitler pode ter acontecido. E realmente, através de histórias paralelas, mas que na realidade são todas a mesma, Cabaret desvenda-nos uma Alemanha decadente, sedenta de saídas da depressão para onde a I Guerra Mundial a atirara e o palco perfeito para o progresso de uma mentalidade ultra-nacionalista e o subsequente crescimento da ideologia Nazi aos níveis que todos infelizmente conhecemos. E foi este sentimento de agonia já longínquo no tempo, mas que importa manter sempre actual, que pudemos sofrer ao assistir a esta produção deste musical. Simplesmente, sem pretensões, como é de esperar de uma companhia que subsiste praticamente pelos próprios meios, o véu sobre esta Alemanha do nosso descontentamento foi levantado. Entre cantores, actores e cantactores, alguns talentos de monta a salientar: aplausos para Helena Afonso no papel de Fräulein Schneider, na sua primeira aparição com os Lisbon Players; uma excelente actriz, com um evidente talento para cantar papéis de carácter. Outra nota especial para Jon Pedersen, num simultaneamente divertido e perturbante Emcee, despedindo-se de Lisboa e dos Lisbon Players, uma vez que está de regresso a Oslo. James Warner, que executou o papel de Clifford Bradshaw, embora seja um actor com pequena experiência de palco, teve momentos altos de carga dramática nesta sua estreia com os Lisbon Players. Agradou-me saber e louvei esse conhecimento com saudade, que ele também estudou em Leeds como eu e como eu actuou em espectáculos musicais com a Leeds University Musical Society, em 2000, cinco anos depois de mim. Grant Shepherd fez um convincente e por isso, antipático Nazi Ernst Ludwig. Catarina Wallenstein cantou bem a Sally Bowles e até me tocou com o seu dramático “Cabaret”, pelo contraste de emoções que este número musical suscita. Por fim, uma nota de valia pela actuação de Helena Bandeira no papel da dissoluta e detestável Fräulein Kost e uma especialíssima salva de palmas para Jonathan Weightman, por um amável Herr Schultz e pelo difícil fardo de conduzir este “barco” por mares de austeridade.
Quanto a próximas produções, em Abril e Maio poderemos assistir à peça "Two in the corner" de David Campton, com Celia Williams e Amanda Booth. Para a peça "As águas de Cascais" de Madeline Raynolds, que se seguirá, estão abertas audições que decorrerão no Estrela Hall na segunda-feira, 24 de Abril, pelas 20:00h.
Resta-me esperar que os Lisbon Players continuem a produzir entre nós por, pelo menos, mais 60 anos…
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