"Extravaganza" no C.C.B.

Na sexta-feira, dia 17, fui ver a um preenchido Pequeno Auditório do C.C.B. o espectáculo “Extravaganza”, pela Companhia de Dança espassolatino. Esta companhia portuguesa dá agora os seus primeiros passos num caminho que está para além das danças latinas e para dentro do mundo dos musicais de palco. O espassolatino já se afirmou nacional e internacionalmente como um grupo de proeminente qualidade na interpretação daquela que é uma bem sucedida destilação de ritmos cubanos com toadas de Porto Rico e influências de jazz: de Nova York para o mundo, a salsa! Depois de “Latin Fever”, a sua primeira experiência no circuito dos musicais, que ainda foi dominado quase exclusivamente por ritmos latinos e alma salseira, numa ambiência bem versada para quem conhece este universo, eis que nos apresentam então o mundo da “Extravaganza”! Neste espectáculo, o espassolatino, uma vez mais seguindo a sua líder histórica Bibi Fernandes, ousou ir mais longe e, num espectáculo onde a salsa é sempre rainha, saiu da esfera desta dança para tentar ritmos que não lhe são naturais, como uma pequena incursão pela música e dança irlandesas... Para evidente agrado meu, devo confessar. E assim, assisti na sexta-feira a um já quase espectáculo de teatro musical, pois de um bailado com dramaturgia se tratou. Ainda não foi um musical propriamente dito, pois lhe faltou a música ao vivo e, puxando a brasa à minha sardinha, os cantores. Mas foi só isso que faltou, o resto já se consegue entrever.
Mais uma vez assistimos a uma exibição de excelentes bailarinos. Alguns salseiros que aprenderam a sua arte “nas ruas” e que a vêm trabalhando desde então, outros bailarinos profissionais, formados em escolas superiores de dança, e que enveredaram por uma carreira nas danças latinas. Mas, cada um no seu estilo, são todos de um nível de notável qualidade. Uma nota altíssima para os elementos femininos do grupo, que uma vez mais demonstraram porque estão cotadas entre as melhores dançarinas de salsa a nível mundial. Um controlo corporal invejável e uma movimentação de perder a cabeça! Os homens também estiveram muito bem, se bem que num papel mais tipicamente de suporte, como até é comum ver em danças de salão, mas que é muito raro encontrar na salsa. Uma nota tendenciosa de apreço pelo meu amigo Rui Caetano que lá esteve a protagonizar com muito humor a canção da “Gorda”.
Não poderia deixar passar em branco dois momentos sublimes que me fizeram saltar as lágrimas dos olhos e arrepiar até à raiz dos cabelos, respectivamente. O primeiro foi o magnífico momento de ballet contemporâneo da primeira parte, que me emocionou sobremaneira. O segundo, foi o momento de tango argentino, da responsabilidade dos “demoníacos” Juan Caprioti e Graciana Romeo, que foi de uma intensidade que já não experimentava há muito tempo com esta dança endiabrada.
Parabéns, Bibi, por mais este sucesso! Aguardo ansiosamente uma oportunidade de colaboração no sentido de ter cantores ao vivo, quem sabe, num próximo musical da companhia?

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