Assim sendo, assisti a um Hoffmann cantado por Jean-Pierre Furlan, que, não se tendo distinguido como cantor notabilíssimo, cumpriu o díficil papel de cantar quatro óperas numa só. Maior distinção deverei oferecer, por semelhante dificuldade, a Johannes von Duisburg, que, ao que parece, estava em dia bom, pois agradou-me bastante nos papéis de “maus-da-fita”. Passando para as senhoras, temos quatro vozes diferentes como a noite e o dia e quatro comentários que fazem jus à diferença. Outro papel que canta quatro óperas numa foi o interpretado por Stephanie Houtzeel (La Muse/Nicklausse), que me agradou sobremaneira. Uma voz que, não sendo de enorme dimensão, encheu razoavelmente bem a sala e soube conter-se quando assim foi necessário (ver mais à frente). A nossa Olympia de serviço, Chelsey Schill, cantou bem, mas representou melhor. Também, verdade seja dita, aquele tipo de ária de coloratura estratosférica consome-me os nervos e turva o meu julgamento. As minhas desculpas pela subjectividade. Já o meu enorme e imenso aplauso vai para a intérprete da infeliz Antonia, Maria Fontosh. Uma voz magnífica, uma interpretação fantástica, realmente um momento altíssimo da noite. Noite essa que perdeu brilho quando começou a famosa “Barcarolle”. Que desilusão, meus senhores! Foi neste momento que Stephanie Houtzeel teve que se conter, tudo porque a voz de Riki Guy, a Giulietta, simplesmente não se ouvia! Não sei, honestamente, se estava doente ou se é mesmo assim. Mas a voz dela era demasiado pequena para o papel, que ficou algo comprometido com isso. Talvez fosse do extremamente apertado corpete que a senhora escolheu para figurino. Enfim, pelo menos estava elegante!
Chegou a altura de tecer o habitual elogio à representação lusitana deste elenco, que era efectivamente considerável: começando pelo meu amigo Diogo Oliveira, que passou a noite “bêbado” no papel de Wilhelm: muito bem, amigo, quase me fizeste acreditar que decidiste abandonar a tua postura abstémia! Continuo à espera de ver a magnífica voz deste jovem barítono entregue a papéis que estejam realmente ao seu nível. Esse dia chegará...
Maria Luisa de Freitas cantou muito bem a Voz do Além (ou a mãe de Antonia). Em prestações muitíssimo valorosas estiveram também José Corvelo (Luther), Marco Alves dos Santos (Nathanaël), João Merino (Hermann), Pedro Chaves (Spalanzani), Rui Baeta (Schlémil) e Ciro Telmo (Capitão). Mas a minha última palavra de apreço terá que ir, sem dúvida, para o português que cantou quatro óperas em uma, nos papéis de Andrès / Cochenille / Frantz / Pitichinaccio, o nosso tenor de sempre, Carlos Guilherme, a quem S. Carlos se rendeu. Foi divertido, cantou muito bem, interpretou melhor e fez-me sorrir. Muito bem!
Resta-me esperar por amanhã, pela estreia da minha ópera favorita. Aguardo com ansiedade as surpresas que nos reservam esta produção moderna de Antuérpia da minha Tosca. Ansiedade crescente, mesmo... E algum receio... :-)
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